O Catequista e a Animação Bíblica da Pastoral
"... Sede praticantes da Palavra, e não meros ouvintes ..." (cf.Tg 1, 22)
Nos últimos anos, temos acompanhado a grande preocupação de nossa Igreja e o apelo de nossos bispos para um reaprender e familiarizar-se com o novo vocábulo que é o da “Animação Bíblica da Pastoral”. Obviamente, este termo pode ser novo na nossa linguagem, porém, muito presente na caminhada do povo da Bíblia bem antes da Tradição escrita. Todavia, não encontramos na Bíblia a expressão Animação Bíblica da Pastoral, mas encontramos uma dimensão bíblica que permeia todo agir ético e comportamental do povo de Deus. Um exemplo típico desta transmissão pode ser encontrado no Sl 78 (79) que diz: O que nós ouvimos, o que aprendemos, o que nossos pais nos contaram, não ocultaremos a seus filhos; mas vamos contar à geração seguinte as glórias do Senhor, o seu poder e os prodígios que operou” Os primeiros educadores da fé e ou agentes de pastoral, tinham em mente que o processo educativo da fé se dava pela de transmissão da Palavra de Deus.
No centro da espiritualidade de Israel está a Palavra pela qual Deus se fez conhecer a si mesmo e que ajuda a interpretar os novos acontecimentos da história. Logo, toda ação evangelizadora, tanto no Antigo como no Novo Testamento, era perpassada pela dimensão Bíblico-Catequética.
O processo de transmissão consistia num núcleo fundamental para a exegese hebraica. Esta Tradição Oral, ensinamento que foi sendo transmitido de geração em geração, esse processo podemos chamá-lo de catequese. Para a Igreja, a Escritura, junto com a Tradição viva, é norma suprema da fé, fonte principal e anúncio de vida.
Com o Concílio Vaticano II, percebe-se que cada vez mais ganha espaço e importância, na ação evangelizadora, a Animação Bíblico-Catequética. O grande contingente de cristãos que não foram evangelizados faz voltar o olhar para a rica experiência catecumenal da Igreja antiga, na qual a catequese estava estreitamente ligada à Bíblia e sua leitura inserida no seio da comunidade eclesial. Escolas catecumenais, como as de Alexandria e Antioquia, não só foram as responsáveis por uma formação cristã de qualidade, como também do desenvolvimento de uma pedagogia de educação na fé e da explicitação dos traços essenciais de um método adequado de leitura das Escrituras, influenciando a Igreja como um todo. “A catequese há de haurir sempre o seu conteúdo na fonte viva da Palavra de Deus, transmitida na Tradição e na Sagrada Escritura, porque a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito inviolável da Palavra de Deus, confiada à Igreja” (CT 27).
A recente exortação Apostólica pós Sinodal VERBUM DOMINI sobre a Palavra de Deus na Vida e Missão da Igreja ao falar de Animação Bíblica da pastoral acentua que “quando não se formam os fiéis num conhecimento da Bíblia conforme à fé da Igreja no sulco da sua Tradição viva, deixa-se efetivamente um vazio pastoral, onde as realidades como seitas podem encontrar fácil terreno para lançar suas raízes”(VD 73). De fato, a Animação Bíblica da Pastoral é como um novo impulso na pastoral de conjunto. Assim, a evangelização ou a catequese evangelizadora como assim chamamos seja espaço favorável para o encontro com Jesus Cristo Vivo na Palavra. Portanto, o catequista que desempenha um ministério que é o serviço da proclamação e do testemunho da Palavra de Deus deverá ser o primeiro impulsionador da Animação Bíblica da Pastoral, conduzindo o itinerário de conversão daqueles que, tendo descoberto Jesus Cristo, querem continuar a descobrir a graça da fé, até alcançar a plenitude da vida cristã. A VERBUM DOMINI nos ajuda a compreender a Animação Bíblica da Pastoral como:
1. Um esforço particular da pastoral em acentuar a Bíblia, Palavra de Deus na vida e missão da Igreja.
“O Sínodo convida toda Igreja a um empenho pastoral para ressaltar o ponto central da Palavra de Deus na vida eclesial recomendando que “se incremente a ’pastoral bíblica’, não em justaposição com outras pastorais, mas como Animação Bíblica da Pastoral inteira” (cf.VD, 73).
2. Interesse real pelo encontro pessoal com Jesus Cristo na Palavra.
“Não se trata de acrescentar qualquer encontro na paróquia ou na diocese, mas de verificar que, nas atividades habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nas associações e nos movimentos, se tenha realmente o encontro pessoal com Jesus Cristo que Se comunica a nós na sua Palavra” (VD, 73).
3. Conduzir a um maior conhecimento da Pessoa de Jesus Cristo.
“Dado que a ignorância das Escrituras é a ignorância do próprio Cristo, então podemos esperar que a Animação Bíblica de toda Pastoral ordinária e extraordinária levará a um maior conhecimento da Pessoa de Jesus Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina” (VD, 73).
4. Importância da Animação Bíblica da Pastoral como eficácia e solidez na missão diante do fenômeno dos novos movimentos religiosos.
“Exorto aos pastores e os fiéis a terem em conta a importância desta animação: será o modo melhor de enfrentar alguns problemas pastorais referidos durante a assembleia sinodal, ligados por exemplos à proliferação de seitas, que difundem uma leitura deformada e instrumentalizada da Sagrada Escritura” (VD, 73).
5. Formar os cristãos no conhecimento da Bíblia, na fé da Igreja e sua tradição:
“Quando não se formam os fiés num conhecimento da Bíblia conforme à fé da Igreja no sulco da sua Tradição viva, deixa-se efetivamente um vazio pastoral, onde as realidades como seitas podem encontrar fácil terreno para lançar suas raízes” (VD, 73).
6. Preparar a os Presbíteros e Leigos para INSTRUIR e ENSINAR com autenticidade as Escrituras.
“Por isso é necessário prover também a uma preparação adequada dos sacerdotes e leigos, para poderem instruir o Povo de Deus na genuína abordagem das Escrituras” (VD, 73).
7. Promover COMUNIDADES onde a Bíblia seja fonte da oração e conhecimento segundo a fé da Igreja: (grupo lendo a Bíblia)
“Além disso, como foi sublinhado durante os trabalhos sinodais, é bom que, na atividade pastoral, se favoreça a difusão de pequenas comunidades, formadas por famílias ou radicadas nas paróquias ou ainda ligadas aos diversos movimentos eclesiais e novas comunidades, nas quais se promova a formação, a oração e o conhecimento da Bíblia segundo a fé da Igreja” (VD, 73).
Desde a DEI VERBUM, e agora com a VERBUM DOMINI, é possível perceber que a Animação Bíblica da Pastoral é toda a atividade da Igreja, no esforço de anunciar com eficácia o Reino de Deus: “é preciso, pois que, do mesmo modo que a religião cristã, também a pregação eclesiástica seja alimentada e dirigida pela Sagrada Escritura” (DV 21). Teologicamente falando, é a Palavra de Deus que dá origem à Igreja, e a Bíblia, como Palavra de Deus escrita, é a força e coluna em que se apoia a dimensão eclesial. É louvável que a catequese tem sido a tarefa eclesial mais ligada a Bíblia e tanto a V Conferência como o Sínodo dos bispos de 2008 desejam que também as demais pastorais busquem, nas Sagradas Escrituras, a inspiração e o fundamento de suas ações.
Uma foto dos Bispos na Assembleia: Nossos Bispos, na 48ª Assembleia Geral da CNBB, destacaram que “em continuidade com tudo que já se realiza, somos convidados a dar um novo passo. Trata-se de compreender que a Palavra de Deus é a alma de toda a ação evangelizadora da Igreja. Propõe-se uma verdadeira ’Animação Bíblica da Pastoral’. Assim, a Palavra de Deus, contida na Sagrada Escritura, suscita, forma e acompanha a vocação e a missão de cada discípulo missionário de Jesus Cristo e orienta as ações organizadas da Igreja. Dessa forma, além de ser ’alma da teologia’ (DV 24), a Palavra de Deus torna-se também a ’alma da ação evangelizadora da Igreja’ (DP 372; DAp 248)”.
E afirmaram ainda: “Quando falamos da "Animação Bíblica da Pastoral", propomos conhecer e assimilar mais a Revelação de Deus, em ter, mediante sua Palavra, um encontro pessoal e comunitário com o Senhor e sermos corajosos missionários do Reino de Deus. Por isso, a ’Animação Bíblica da Pastoral’ deve tornar-se um verdadeiro aprendizado, por meio de um caminho de conhecimento e interpretação da Sagrada Escritura, caminho de comunhão e oração com o Senhor e caminho de evangelização e anúncio da Palavra de Deus, esperança para o nosso mundo (cf. DAp 248)”.
E conclamaram: “é hora, pois, de uma formação bíblica mais intensa, profunda, sistemática e corajosa; de um contínuo e fascinante contato com a Palavra de Deus, que é Jesus Cristo; de uma forte e vibrante ação evangelizadora a partir da Palavra de Deus”. (cf. Mensagem dos Bispos do Brasil sobre a Palavra de Deus e a animação Bíblica de toda Pastoral).
Na verdade, o que a Igreja deseja é que a pastoral, em seu conjunto, promova sua atividade dentro do processo da Transmissão da fé [catequese], celebração da fé e o testemunho da fé proclamada e celebrada. Aqui está o papel do catequista no serviço da Animação Bíblica da Pastoral. Temos a certeza de que a Bíblia é, de fato, essencial para que os cristãos cheguem gradativamente à maturidade da fé. Um longo percurso que se constrói com a ajuda de pessoas, do grupo, da comunidade, da Igreja, deixando-se guiar docilmente pela ação do Espírito Santo. A Palavra de Deus é essencial, desempenha um papel central na vida e nas atividades eclesiais.
Do ponto de vista da catequese evangelizadora é importante salientar a centralidade da Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, colocada em relevo pelo Concílio Vaticano II. E como afirmam os últimos documentos da Igreja, faz-se necessário priorizar uma Animação Bíblica da Pastoral, tarefa que se abre para os novos tempos. Ela vem responder aos desafios do momento, pois a mesma brota do modo com que Deus, em sua sabedoria, foi reunindo as condições para que se estabelecesse uma relação dialógica, mediada por uma Palavra que se faz vida na história pessoal e de um povo.
Com certeza, a Bíblia, sendo assumida pelas Dioceses, Paróquias e Comunidades, como FONTE e ALMA de toda PASTORAL, será uma das mediações privilegiadas na promoção da pastoral de conjunto, tão essencial para que a comunidade eclesial seja expressão de uma Igreja convocada, reunida e enviada pela Palavra de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo e que é celebrada, atualizada e vivenciada na Eucaristia.
Irmã Maria Aparecida Barboza, ICM
Pe. Jânison de Sá
Celebração para o dia do Catequista!
QUEM NOS SEPARARÁ DO AMOR DE CRISTO?
(Para a celebração: Bíblia, vela, pão e vinho, Documento Diretrizes Gerais da CNBB, bilhetes em branco para todos os catequistas escreverem alguns pensamentos). (Atenção! Sejam guardados os tempos de silêncio, como indicados. São momentos de profunda interiorização, que não se podem perder).
Acolhida: (Dirigente) Estamos aqui reunidos para celebrar o “nosso dia”. Como discípulos e missionários, queremos refletir sobre nossa vocação de catequistas e como podemos anunciar, do melhor modo, a grande mensagem de Jesus Cristo.
Em maio p.p. foram entregues à Igreja do Brasil as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora aprovadas na Assembléia da CNBB. Estas devem orientar nossa ação pastoral, em nosso caso, a catequese. É um documento muito rico que merece ser estudado por nós com seriedade. O Documento dá grande ênfase à adesão pessoal de cada agente de pastoral à Pessoa de Jesus Cristo. Quanto mais se vive esta adesão, tanto melhor se saberá evangelizar. Diz o Documento que nosso anúncio seja impregnado da Palavra de Deus e pelo amor à Eucaristia, como meios fortes para conhecer e anunciar, cada vez mais, o Mistério de Cristo, o Mistério Pascal.
(Entram pessoas com a Bíblia, uma vela acesa, pão e vinho, o Documento das Diretrizes, enquanto todos cantam):
Canto: Catequese, catequese é o caminho que o discípulo conduz para a missão,
Catequistas a serviço da Palavra, construamos a Igreja em comunhão.
Se nós permanecemos na Palavra, discípulos fiéis nos tornaremos.
Assim conheceremos a Verdade, e a Luz do Evangelho espalharemos.
Catequese, catequese é o caminho... (CD 122425-7 – Paulinas)
Dirigente: As Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil iniciam seu primeiro capítulo assim: “Toda a ação eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para ele e para o Reino do Pai. Jesus Cristo é nossa razão de ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir”. (DGAE 4)
Como nós, catequistas, vivemos esta adesão a Jesus Cristo? Jesus nos encanta e nos anima? Sentimos sua amizade e procuramos conhecê-lo, cada vez mais, por sua Palavra? Irradiamos sua pessoa fascinante na catequese, no nosso ambiente? Ele modifica a nossa vida, ele nos acompanha e nos leva a um verdadeiro testemunho?
Vamos ficar alguns minutos em silêncio para refletir como vivemos a nossa adesão a Cristo. Depois, podem cochichar, 2 a 2, trocando as experiências.
Dirigente: Não podemos orientar os outros, sem vivermos, com toda alma, este seguimento. Um grande exemplo para nós é São Paulo. Vamos aprofundar algumas de suas palavras, muito ricas;
Leitor(a) 1: “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, angústia, perseguição fome, nudez, perigo, espada? Tenha certeza que nada será capaz de nos separar do amor de Deus, que está no Cristo Jesus, nosso Senhor” (cf. Rm 8,35-39).
Vamos refletir: quais são os obstáculos ou dificuldades para viver o amor para com Jesus? (Pode-se fazer uma breve partilha)
Em seguida, todos cantam (em tom meditativo):
Quem nos separará, quem vai nos separar
do amor de Cristo; quem nos separará?
Se ele é por nós, quem será, quem será contra nós,
quem vai nos separar do amor de Cristo, quem será?
Leitor(a) 2: “Julgo que tudo é prejuízo diante deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele.” (Fl 3,38)
Há muito lixo em nossa vida que deve ser jogado fora, como diz S.Paulo. O que atrapalha nosso amor a Cristo, nosso testemunho cristão? Quais são esses “lixos”?
Depois de alguns instantes de silêncio, todos escrevam esses “lixos” num bilhete. Depois, o “embolem” e o joguem, com desprezo, no chão no meio de grupo.
Vamos cantar: Quem nos separará...
Nem desânimo, ou perigo, nem os erros do meu irmão,
nenhuma das criaturas, nem a desilusão. Quem nos separará...
Leitor(a) 3: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.” (Gl 2,20a) Mas, “pela graça de Deus sou o que sou, e sua graça em mim não foi em vão”. (1Cr 15,10)
Reflitamos, em silêncio, sobre estas palavras profundas de S. Paulo.
Podemos colocar aqui, em comum, alguns depoimentos ou pensamentos espontâneos sobre como a riqueza das palavras de Paulo repercutem em nossa vida.
Leitor 4: “Anunciar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cr 9,16)
Vamos Refletir: O amor ao Cristo vai nos levar, como S. Paulo, a evangelizar, a anunciar o Evangelho? Sentimos em nós essa necessidade? (Alguns instantes de silêncio)
Canto: Catequese, catequese é o caminho
Que o discípulo conduz para a missão.
Catequistas a serviço da Palavra
Construamos a Igreja em comunhão.
É pela pregação que vem a fé,
Portanto, se calarmos não crerão.
Jesus conta conosco e nos envia,
Desata-nos a língua e o coração. Catequese, catequese...
Vamos rezar juntos:
Senhor Jesus, estamos aqui diante de ti,
Conscientes de nossa falta de amor por ti,
Que se expressa em nossas atitudes e falhas.
Nós te pedimos a graça de sermos, realmente,
Testemunhas do teu amor aos nossos catequizandos,
A fim de que o amor por ti se acenda nos seus corações.
Abençoa-nos, dá nos a força do teu Espírito,
Acompanha-nos na nossa sublime missão
De anunciar que Tu és o Caminho, a Verdade e a Vida. Amém.
Dirigente: Que nos abençoe o nosso Deus,
O Pai que é a fonte de toda vida,
O Filho que nos manda catequizar,
O Espírito que nos ilumina e nos une num só Corpo.
Que o Senhor esteja conosco e sempre nos acompanhe! Amém!
Todos se abraçam e segue a confraternização.