CATEQUISTAS EM FORMAÇÃO: EXCESSO DE RITO BANALIZA A LITURGIA


Os ritos de entrega na catequese

A catequese de INICIAÇÃO A VIDA CRISTÃ - que costumamos chamar de IVC simplesmente - preconiza um "retorno" aos primeiros tempos da nossa Igreja. À Igreja construída pelos apóstolos de Cristo nos primeiros séculos.

Obviamente que este "retorno", carece de atualização aos tempos atuais. Então, o que temos visto é a orientação da Igreja e de vários padres estudiosos do tema, para que se faça uma catequese de "inspiração catecumenal", lembrando alguns preceitos do CATECUMENATO", como era chamada a catequese naquele tempo.

Isto pode ser estudado nas publicações da CNBB, principalmente no Estudo 97 –Iniciação à Vida Cristã, e na 3ª Semana Brasileira de Catequese, assim como em vários livros de autores como: Pe. Antônio Lelo, Pe. Luiz Lima, Pe. Lucio Zorzi, Pe. Leomar Brustolin, Pe. Almeida e vários outros.

Mas, o que eu considero (pessoalmente), o grande "entrave" para nós catequistas, a respeito da IVC, é que ela é destinada principalmente a catequese de adultos que:
Ø  não receberam os sacramentos da iniciação;
Ø  não complementaram sua catequese e;
Ø  ao "resgate" dos adultos que foram catequizados, receberam os sacramentos e, no entanto, não foram devidamente evangelizados e acabaram por se afastar da Igreja. Não houve a terceira etapa da evangelização que é o “seguimento”.

E nós, tão acostumados a catequese com crianças e, no máximo, adolescentes e jovens até os 15, 16 anos, nos vimos, de repente, no "olho do furacão".

A máxima de que: "criança se acolhe e se evangeliza adultos", tem dado um nó na nossa cabeça. E as pastorais catequéticas assumiram, praticamente sozinhas, a iniciação inspirada no processo catecumenal. A tal IVC - que é para adultos - e a gente quer adaptar à catequese das crianças. Como? Onde? De que forma?

Isso tem sido uma confusão só e temos vários casos acontecendo:

1 - Algumas dioceses e algumas paróquias, isoladas até, tem tomado "pé da coisa" e entendido que, para se voltar à Catequese Catecumenal ou para se implantar uma IVC de verdade, é preciso uma "reviravolta" inteira da Igreja: CPP, presbíteros, todas as pastorais, grupos e movimentos; precisam se envolver para que isso funcione, não só a catequese como uma pastoral "isolada". E devagar estão fazendo a IVC acontecer.
2 - Encontramos também algumas "implantações" da IVC aos moldes das próprias dioceses. Adaptações desta ou daquela orientação às características locais, com nomes os mais diversificados possíveis.
3 - Outras, no entanto, tem se voltado exclusivamente para a "implantação dos ritos" descritos no RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos), livro litúrgico da Santa Sé que disciplina a liturgia da Iniciação Cristã Catecumenal.
4 - E a grande maioria que, nem sequer sabe do que estou falando.

Bom, por aí se vê, o quanto é difícil falar de uma realidade tão equidistante uma da outra. Mas, a minha fala de que "excesso de rito banaliza a liturgia" se deve principalmente ao 2º e 3º caso que citei.

Tem se cometido alguns equívocos misturando um pouco a utilização do RICA e a implantação de uma catequese mais "mistagógica".
Vamos tentar "separar" um pouco os dois:

O RICA disciplina os ritos da Iniciação cristã de adultos e os sacramentos dela: batismo, crisma e eucaristia. E tem, para se adequar a realidade de hoje na Igreja, um capítulo destinado à iniciação de crianças em idade de catequese. Estes ritos fazem parte da catequese mistagógica. Mas, não é só isso que faz uma catequese mistagógica.

A "catequese mistagógica" pede que se volte a "conduzir" os catequizandos ao mistério da fé. Mistério este que prescinde de simbologia, ritos e uma volta ao sentido do "sagrado". Para isso encontramos várias orientações de celebrações catequéticas. Celebrações, ritos e momentos orantes, que podem ser feitos nos encontros de catequese e não só na celebração da missa com a comunidade.

Precisamos pensar que a Liturgia da nossa Igreja - e aqui vou simplificar para "missa" - tem suas orientações e sentidos. Ela é sagrada, milenar e regida por orientações específicas. Nem todos os "ritos" e "entregas" da catequese, "cabem" nela. O que cabe, está descrito no RICA. Mas, o que vemos em alguns casos são entregas de: mandamentos, sacramentos, dons do Espírito Santo, Bem Aventuranças, mandamento do amor... etc., etc. - feitos todos durante a celebração da missa!

Para clarear um pouco mais, voltemos agora ao RICA, que prevê o catecumenato em quatro tempos: Pré-Catecumenato ou primeiro anúncio; catecumenato (catequese e tempo mais longo); Purificação e Iluminação (Quaresma) e; Mistagogia (tempo pascal onde se inicia o serviço pastoral/missionário). E é entre estes "tempos", temos as três grandes passagens de etapa.

Ø  Depois do pré-catecumenato (conversão), o candidato é acolhido na comunidade e se faz o Rito da Admissão (acolhida)- 1ª ETAPA;
Ø  ao se passar do Catecumenato (catequese) para a Purificação, é feita outra "eleição" aos sacramentos - 2ª ETAPA; e na purificação é feita uma preparação especial nos domingos da quaresma para que no sábado santo se receba os sacramentos da iniciação. Vejam só, os SACRAMENTOS recebidos aqui é o marco da passagem ao último tempo, que é;
Ø  a 3ª ETAPA, chamada de mistagogia, onde se aprofunda e se mergulha no mistério cristão, no mistério pascal, na vida nova e onde se faz uma vivência na comunidade cristã para, então, adaptar-se a ela e ser um verdadeiro discípulo missionário de Cristo.

Durante o tempo do catecumenato (Catequese propriamente dita), o RICA prevê algumas entregas de símbolos: 
- NA ADESÃO (passagem do pré-catecumenato ao catecumenato):
Ø  entrega da PALAVRA (Bíblia), aqui, no rito da acolhida (descrito também do RICA), pode ser entregue uma cruz ao candidatos;
- NO CATECUMENATO, precedidas de uma catequese adequada sobre isso:
Ø  entrega do SÍMBOLO (Credo),
Ø  entrega da ORAÇÃO DO SENHOR (Pai Nosso).

Pronto. Não existem mais "entregas" de símbolos previstos no RICA.

Existem sim, vários RITOS que podem ser feitos: Rito do Éfeta, Rito da Unção, Exorcismos (orações), Bênçãos, rito penitencial, Escrutínios (são feitos três a partir do 3º domingo da Quaresma).

E aqui vale uma orientação para que todos procurem o RICA para conhecer a beleza dos ritos de iniciação cristã de nossa Igreja. Lembrando sempre que o RICA é um LIVRO LITÚRGICO de apoio à catequese de Iniciação a Vida Cristã, com orientações preciosas. Mas, não se pode seguir um "ritual" sem que se faça catequese antes.
E nem se pode "inventar" entregas de símbolos nas celebrações litúrgicas (missa).

É claro que podemos enriquecer muito nossa catequese valorizando as grandes colunas da nossa fé: Mandamentos, Sacramentos, Bem Aventuranças; fazendo celebrações CATEQUÉTICAS, ou seja, celebrações nos encontros de catequese, com o grupo, com a presença de um diácono ou até do padre, com a presença da família, padrinhos, sem que estas envolvam, necessariamente toda a comunidade e mude a liturgia da Missa.

O catecumenato há muito foi abandonado pela nossa Igreja, nem mesmo nossos pais e avós conhecem os ritos usados pela Igreja na antiguidade. Sempre que possível, fazer uma catequese com a família sobre a simbologia e os ritos que pretendemos resgatar.

Enfim, é isso que eu quis dizer com "excessos de ritos e entregas banalizam a missa e a liturgia". As entregas dos símbolos e os ritos da iniciação são especiais demais para que se faça "por fazer", somente porque é "bonito". A comunidade precisa sentir o quão especial são os ritos e entregas e não achar que é um ritualismo desnecessário e "demorado" que algum catequista "inventou". Infelizmente muita gente vai à missa com o tempo "cronometrado" no relógio. Importante tentar mudar isso, façamos com que eles se "apaixonem" pela nossa Igreja e queiram voltar sempre e não, se aborrecer com a demora em acabar.

Outra coisa: os ritos do catecumenato foram pensados, em princípio, PARA ADULTOS, maduros, conscientes do que querem para si. Nós fazemos catequese com crianças que, muitas vezes, ainda não tem capacidade e maturidade para entender o mistério da fé e não sabem exatamente, que "escolha" estão fazendo agora. Cabe aqui, nossas orações para que estes ritos e entregas sejam momentos "marcantes" o bastante em suas vidas para que eles busquem sempre conhecer e aprofundar a sua fé.


Catequista

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